Quando trocar de empresa: jornada de R$2.5k até R$25k
Os 3 sinais claros de quando sair – e por que paciência estratégica vale mais que saltos frequentes
Você está realmente estagnado ou só com pressa demais?
Essa é a pergunta que separa devs que constroem carreiras sólidas daqueles que ficam pulando de galho em galho sem crescer de verdade.
Na carreira de TI, eu observo dois grupos principais:
Grupo A: Troca de empresa atrás de +30% de salário
Grupo B: Aprende tudo o que consegue numa empresa, depois troca fazendo saltos de 3-5x ao mudar de tier
Contra-intuitivo, mas Grupo B cresce mais rápido no longo prazo. Por quê?
Hoje trago o Yuri Flagare, um dos membros mais ativos da comunidade do NaGringa e autor da The Ignition Blueprint. Ele viveu ambos os lados: ficou 3 anos ganhando R$2.5-3k, mas depois multiplicou seu salário por 10 trabalhando remotamente pra gringa, trocando de uma empresa Tier 1 para Tier 3.
A história dele ensina quando ter paciência – e quando trocar imediatamente.
Agora é com o Yuri:
Você vê todo mundo crescendo rápido. Aquele dev que começou junto com você já tá ganhando o dobro. Outro pulou pra gringa em 6 meses. E você? Continua no mesmo lugar, com um salário que parece injusto comparado ao que você entrega.
Eu sei como é essa sensação. No meu primeiro ano eu programava C# numa startup minúscula, ganhando 2.5k. Passei os dois anos seguintes na Hotmart ganhando na mesma faixa 2.5-3k, onde eu tinha que escolher entre ser Frontend React ou Backend Java. Hoje trabalho remotamente pra gringa, multipliquei meu salário por 10, trampo com stacks totalmente diferentes das que eu comecei, depois de ter passado por todo tipo de tecnologia e produto.
Hoje posso me definir como Engenheiro de Software, alguém que não precisa ficar numa caixa, trabalha com problemas complexos e recebe muito bem por isso – exatamente o que eu corri atrás há 4 anos pra conseguir.
Só que tudo isso teve um preço. Um preço alto.
E o que eu aprendi nesses anos não foi sobre como crescer mais rápido. Foi sobre quando ter pressa te atrapalha e quando é hora de realmente trocar de empresa.
✨ O que esperar desse artigo
Os 3 sinais claros de que é hora de trocar de empresa (e quando você tá só com pressa demais)
Por que clareza sobre seu crescimento vale mais que salário alto no curto prazo
O framework prático para avaliar se você tá sendo recompensado de acordo com o mercado
🪣 O balde de água fria: com 1-2 anos você ainda não sabe nada
E eu falo isso da forma mais respeitosa possível: com um ano e meio de dev, você tá na infância da sua carreira.
Não é diminuir suas capacidades. É a realidade. Nessa fase você ainda tá aprendendo:
Como seu código impacta o negócio
Como trabalhar com sistemas legados
Como debugar problemas que não aparecem no tutorial
Como se comunicar sobre tradeoffs técnicos
Como estimar trabalho de forma realista
Tem uma distorção muito grande de valores de salários no nosso mercado. Principalmente em grupos de devs, onde só aparecem os casos fora da curva. Você vê gente pulando de 5k pra 20k em 6 meses, mas não vê as centenas que continuam crescendo de forma gradual e sustentável.
Você acaba achando que o baseline é a exceção à regra porque, nos tempos de hoje, o que destaca e faz barulho é só o extraordinário. E, eu arrisco dizer, é bem provável que você seja refém do bom e velho viés da confirmação: você quer que essa seja a realidade. Você precisa. E eu entendo, sou culpado do mesmo mal.
Digo, quem é que quer ouvir que não tá pronto pra ganhar mais? Que tá exatamente onde deveria estar?
A verdade é: o que você tá ganhando provavelmente tá condizente com sua experiência. Pode até estar acima da média, especialmente se for remoto.
Testemunhei mais de uma vez dev com 1 ano de xp ganhando 4k+ trabalhando de casa.
Deixa eu te contar: se você ganha isso, você tá fora da curva. Para quem mentora outros devs ocasionalmente como eu, testemunhei depoimentos mais de uma vez de uma realidade bem parecida com aquela que eu tive em 2018: presencial, 2k, sem benefícios. Às vezes até 6x1.
A fase mais crucial da sua carreira
Sabe qual é o maior perigo dessa fase inicial? Você cria débitos de carreira por pressa.
Débito de carreira é quando você:
Pula de empresa em empresa atrás de salário sem aprender direito
Escolhe trabalhos só por stack “em alta” sem entender o produto
Ignora feedbacks porque “eles não reconhecem seu valor”
Não documenta suas conquistas porque tá correndo pro próximo cargo
Eu não tenho uma habilitação formal como dev. Sou engenheiro mecânico. Sou (ou era) o típico esterótipo do dev de bootcamp. Quando saí da Hotmart eu nunca tinha ouvido falar em Leetcode, entrevista de projeto de sistema (system design), entrevista de code challenge, e, acredite se quiser em “Algoritmos e Estruturas de Dados” como uma disciplina.
Pense no cenário: 2020, auge da pandemia, faltando dev no mercado. A barra era mais baixa: se o dev competente, falava inglês e entrevistava bem, já era meio caminho andado. Foi assim que consegui minha vaga na Deliberate AI, a primeira pra fora numa startup de AI pra saúde mental.
Mas essa não é mais a realidade.
E eu paguei o preço.
Quando precisei sair, o mercado já tinha virado e todas as coisas que eu não sabia eram cobradas nos processos seletivos. Quando entrei na empresa seguinte, minha falta de conhecimentos fundamentais de engenharia de software limitou o potencial de crescimento e oportunidades que eu podia pegar. Virei uma mão de obra pra ticket. O eterno pleno.
Deixa eu te contar a regra básica da promoção e do crescimento: a empresa só promove alguém formalmente quando essa pessoa já opera acima do nível que ela tem como título. Quando você já provou que consegue assumir desafios maiores do que seu nível é que você é promovido. Não quando você tá apenas mandando muito bem nas coisas que faz – é o que a gente chama de promotion lagging, quando você já tem, por exemplo, responsabilidades de sênior, mas ainda é pleno. Você teve que provar que dava conta antes de ser oficialmente intitulado como alguém que dá.
Eu nunca tive essa oportunidade porque me faltava capacidade técnica. O que gerou outro débito de carreira comigo mesmo: meu currículo não tinha uma progressão clara, e eu não tinha uma história forte de crescimento pra compartilhar com recrutadores. Eu não podia me candidatar pra vagas acima da que eu estava, porque essencialmente não estava pronto.
Mas nem tudo foi pressa. Quando eu tava na Hotmart, tive várias propostas para sair para ganhar mais. Localiza ia dobrar meu salário. Tive proposta de 15k PJ. Podia ter saído antes? Sim. Mas usei aquele tempo pra entender como eu funcionava como dev. Aprendi a cometer erros num ambiente seguro. Explorei áreas diferentes.
E eu sabia que que eu estava onde devia estar naquele momento. Isso valeu cada centavo a menos que eu ganhei.
O que nos leva ao próximo tópico.
🚪 Os 3 sinais de que é REALMENTE hora de trocar
Agora, nem tudo é “tenha paciência”. Existe um momento certo de sair. E você sempre sabe quando chegou.
Sinal #1: Você cresceu além do que a empresa pode oferecer
Você sente que não tá mais aprendendo. Os desafios técnicos viraram rotina. Você já sabe como tudo funciona e não tem espaço pra crescer.
Como identificar: Você consegue prever exatamente como vai ser seu dia nos próximos 3 meses. Zero surpresas técnicas.
Sinal #2: Sua liderança limita sua prosperidade
Você tem certeza que teria mais potencial em outro lugar, mas não consegue mudar de time internamente. Seu gestor não te dá feedback claro ou bloqueia suas iniciativas.
Como identificar: Você propõe ideias e elas morrem na mesa do seu líder. Você não entende os critérios de promoção. Suas 1:1s não tem objetivo claro.
Sinal #3: Seus valores não se alinham mais aos da empresa
A empresa toma decisões que você discorda fundamentalmente. Pode ser sobre produto, cultura, ou como tratam as pessoas.
Como identificar: Você volta pra casa se sentindo mal com as decisões da empresa. Você não consegue mais defender o produto ou a cultura em conversas com amigos.
Hoje eu acho que poderia ter ficado um pouco mais na Hotmart, mas quando saí, um dos principais motivos foi que eu senti que precisava de um ambiente diferente para crescer. Mas ao mesmo tempo não me arrependo. A gente só consegue conectar os pontos olhando para trás.
A regra de ouro
Se pelo menos dois desses sinais aparecem, ou um deles torna sua vida absolutamente miserável, troque.
Mas quando você trocar, não troque só por salário. Troque pensando em qual lugar vai te dar o maior potencial de crescimento.
Um vai virar juros compostos de carreira. O outro vai te levar à estagnação, e daqui a 2 anos você estará no mesmo lugar.
Tem dev que gosta de entrar num lugar já pensando em quanto tempo vai ficar. Particularmente não é minha metodologia. Parece com aquele seu tio que só compra carro pensando no valor da revenda. Ele vive sempre num futuro hipotético. Ele nunca aproveita o que tem agora porque só tenta minimizar o prejuízo futuro.
E pra ser dono da sua carreira, você precisa decidir o que é que no seu dia a dia, no presente o que te dá mais potencial de crescimento no futuro. Qual carro, agora, vai te dar a melhor experiência no caminho que você tomou? Aliás, carreira dev é sobre isso: os melhores são aqueles que gostam da jornada.
É um jogo perigoso, esse de viver tentando minimizar riscos. De repente você tirou todo potencial de crescimento e trocou pela certeza tênue do agora.
📈 Como jogar o jogo longo (e ganhar de verdade)
Aqui está o que a maioria não entende: crescimento composto supera reconhecimento imediato.
A skill mais importante: clareza
A skill mais importante que você pode construir nos seus primeiros anos é clareza.
Clareza significa:
Saber o quanto você tá aprendendo de verdade
Entender se você tá crescendo tecnicamente ou só fazendo mais do mesmo
Registrar suas conquistas de forma que virem material pra um CV forte
Avaliar se você tá no caminho certo sem depender de validação externa
Tem o jeito inteligente, o jeito duro de construir clareza. Como tudo na vida, a gente vai tão longe sem um bom sistema, e tem uma frase do James Clear que é clássica, mas muito boa nisso.
“Você não se eleva ao nível dos seus objetivos. Você fica no nível dos seus sistemas. – James Clear
O que quero dizer com isso? Eu aprendi quebrando a cara. Sendo reprovado em processo, sofrendo boicote de promoção, sofrendo demissão em massa e refletindo depois que o pior já aconteceu.
Tenho um amigo que documenta absolutamente tudo que ele faz desde o dia que ele começou a trabalhar, sabe cada entrega que fez e cada skill que aprendeu.
Hoje, eu faço journaling e estou desenvolvendo um app pra me ajudar, mas a palavra chave é: intencionalidade.
Eu adoto o princípio da engenharia reversa. Eu penso exatamente o que eu quero e faço de trás pra frente o caminho. Eu sou intencional com as minhas escolhas, pra onde quero ir, o que quero trabalhar e como quero crescer. Me coloco no lugar da minha liderança e me imagino do outro lado e reflito: o que é que esse cara ia querer de mim nesse momento? O que eu preciso fazer pra fazer a vida dele mais fácil?
Por que clareza importa tanto? Porque a comparação é a inimiga da clareza.
Isso tudo fez a minha vida muito mais fácil. No começo, lá na Hotmart, eu sofria constantemente porque via meus pares recebendo mais, crescendo mais rápido.
Não importa como a empresa trata aqueles dois colegas seus que ganham mais. Às vezes um negociou melhor (skill pra você colocar na lista). Às vezes o outro faz melhor propaganda do que realmente entrega (outra skill pra você aprender).
Hoje, eu olho pra dentro e ignoro o ruído. Só me preocupo com o que tá no meu controle. O mais importante aqui é o autoconhecimento. É ser assertivo no quão bem você está indo dentro dos seus objetivos.
E pra isso tem uma questão essencial, porque às vezes uma empresa, ou vaga, não está servindo aos seus objetivos.
A pergunta que muda tudo
Dado o que eu sei e, principalmente, o que eu NÃO sei, sinto que estou sendo recompensado em comparação ao MERCADO?
Se não, vá para o mercado. Teste. Entreviste. Valide.
Mas não compare com casos individuais. Compare com dados reais de mercado.
Você não é valorizado pela importância, mas pela raridade
Essa é uma das frases que mais moldaram como eu penso carreira.
Infelizmente, você não é valorizado pela sua importância. Se fosse, o professor ganharia uma fortuna. Você é valorizado pela sua raridade no mercado.
Então pergunte: quais skills eu preciso desenvolver pra me tornar um profissional de que as empresas precisam?
Às vezes nem se trata de uma skill técnica óbvia. Às vezes os profissionais mais impactantes têm skills não tradicionais. Particularmente, já ouvi mais de uma vez que meu ponto mais forte é minha habilidade de aplicar conhecimentos transversais, de comunicar assuntos complexos de forma simples, de usar histórias para causar impacto e de saber me colocar muito bem no lugar do cliente. O que eu não sabia é que essas skills eram essenciais pra me tornar um bom Engenheiro de Produto e que me renderam ótimos feedbacks em processos seletivos.
Talvez as que você precisa você até já tenha.
Como usar empresas de forma egoísta (e inteligente)
Pense em cada trabalho como um degrau. A pergunta não é “quanto vou ganhar?”, mas sim:
“Qual tipo de empresa vai ser o melhor degrau possível pra eu me tornar o que eu quero?”
É o renome/pedigree (empresas grandes e famosas)?
É a stack moderna?
É a tecnologia de ponta?
É o tipo de desafio técnico?
É o ambiente cultural?
É a indústria?
No meu caso, depois de 3 anos em startup pequena, eu sabia que precisava de:
Exposição a time internacional
Desafios mais complexos e maiores responsabilidades
Trabalhar com um produto complexo atuando de ponta-a-ponta
Trabalhar próximo do meu cliente final
O principal motivo que me fez escolher a Hotmart, a Deliberate AI e depois a eSpark Learning foi os produtos e a indústria. Eu sou o tipo de pessoa que precisa se importar com aquilo que trabalha, então só vou para lugares em que eu acredito na missão.
Por motivos como esses fui pra gringa. Não foi só pelo 10x no salário. Foi porque eu sabia que aquele ambiente ia me forçar a crescer de formas que eu não conseguiria onde estava.
O ambiente que te torna inegavelmente bom
Quando você tá num ambiente que te torna um profissional melhor, acontece uma coisa mágica:
Você se torna tão bom que as pessoas não conseguem te ignorar.
E aí a remuneração (seja do mercado ou da empresa) se torna uma consequência inevitável.
Não é sobre “trabalhar mais”. É sobre “trabalhar de forma estratégica” escolhendo os ambientes certos.
🎯 O que fazer agora
Se você tá se sentindo perdido ou com pressa:
Reavalie seu momento com honestidade
Quantos anos reais de experiência você tem?
Você já enfrentou problemas de escala? Sistemas legados? Incidentes de produção?
Suas expectativas salariais estão alinhadas com o que você traz de diferencial?
Faça o teste dos 3 sinais
Você cresceu além da empresa? → Busque desafios maiores
Sua liderança te limita? → Procure ambientes com líderes fortes
Valores desalinhados? → Vida é curta demais pra isso
Pense nos próximos 2 anos
Que skills você precisa desenvolver?
Que tipo de problemas você quer resolver?
Que ambiente vai te tornar inegavelmente bom?
Construa clareza
Documente suas conquistas mensalmente
Compare com o MERCADO, não com indivíduos
Teste o mercado regularmente pra calibrar sua raridade
🌟 Resumo
Com 1-2 anos você tá na infância da carreira — é hora de cometer erros e explorar, não de cobrar reconhecimento máximo
Troque quando pelo menos 2 dos 3 sinais aparecerem:
Você cresceu além do que a empresa oferece
Liderança limita seu crescimento
Valores completamente desalinhados
Clareza é a skill mais importante — saber quanto você tá crescendo vale mais que validação externa
Você é valorizado pela raridade, não importância — desenvolva skills que te tornam inegavelmente bom
Crescimento composto > reconhecimento imediato — escolha ambientes que te forçam a evoluir, não só salário maior
📝 Sobre o autor
Sete anos como engenheiro em startups com propósito me ensinaram o que realmente importa para mim: ajudar a gerar valor para os clientes. Sou agnóstico de stack e tenho experiência prática em backend, frontend, devops, bancos de dados, IA — e mais coisas que eu nem mesmo lembro. Tenho até 3 anos de experiência como Product Owner!
Já trabalhei em empresas de EdTech (Hotmart, eSpark Learning), Saúde/Biotech (Deliberate AI) e Manufatura (PlantScanner).
No meu tempo livre, sou um indie hacker construindo meu primeiro produto, narrative designer e game writer prestando consultoria em histórias de jogos, desenvolvedor indie solo fundando meu próprio estúdio e trabalhando no meu primeiro jogo, além de autor de ficção e criador de conteúdo.
Você pode me encontrar no LinkedIn ou acompanhar minha jornada em https://theignitionblueprint.substack.com/publish/home.
Aqui é o Lucas de novo.
Muito obrigado ao Yuri por compartilhar todos os aprendizados que aprendeu nos últimos anos. Isso tudo veio de uma discussão que a gente fez no grupo do WhatsApp do NaGringa, onde conversamos sobre carreira e processos seletivos diariamente.
Nesse dia, eu me lembro muito bem de ver tudo que o Yuri havia escrito, e falei pra ele: por favor, venha publicar sobre isso na newsletter.
Espero que vocês todos tenham tirado um ótimo proveito do artigo de hoje. Foi o primeiro guest post que tivemos em nossa newsletter.
Se vocês gostarem, me avisem, pois posso tentar trazer outras pessoas também.
E, pra você, qual foi alguma lição de carreira que demorou alguns anos para aprender?





É sobre.. recentemente fiz uma movimentação, e essa movimentação vai me manter em sênior por um bom tempo, se eu tivesse permanecido poderia tá arquiteto 1.
No meu caso eu tava me desalinhado um pouco com a cultura e eu fui trabalhar com uma turma conhecida que tem a cultura parecida com a minha.