O segredo dos produtos que encantam
Como feedback loops curtos e obsessão por simplicidade transformam desenvolvedores em product engineers valorizados por empresas como PostHog, Brex e Linear
Você acabou de implementar uma arquitetura impecável. Microserviços orquestrados com perfeição, clean code em cada linha, cobertura de testes beirando os 100%. Três meses de trabalho árduo. No deploy, a realidade bate: seus usuários continuam exportando dados para Excel porque sua solução elegante não resolve o problema real deles.
Esse cenário é mais comum do que deveria ser. Como desenvolvedores, nos apaixonamos pela elegância técnica e perdemos de vista nosso verdadeiro objetivo: encantar usuários resolvendo problemas reais.
✨ O que esperar do artigo
Um framework mental para identificar quais problemas merecem sua atenção (e quais são apenas ruído)
Como aplicar o princípio do feedback loop para criar produtos que usuários adoram
Por que menos features frequentemente significa mais valor
💰 Guia rápido: como receber pagamentos internacionais
Se você já trabalha para empresas internacionais ou planeja começar, uma das primeiras dúvidas é: como receber os pagamentos de forma eficiente?
Depois de anos testando diferentes soluções, aqui está minha recomendação atual:
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A lição esquecida do aprendizado de programação
Quando você aprendeu a programar, o que tornou o processo viciante? Para mim, sempre foi a velocidade do feedback. Escreve código, compila, vê o resultado. Erro? Ajusta e tenta novamente. Em minutos, você testa dezenas de hipóteses.
Esse ciclo rápido de tentativa e erro é prática deliberada em sua forma mais pura. Cada iteração te aproxima da solução. O custo de errar é praticamente zero, então você experimenta sem medo.
Curiosamente, abandonamos esse princípio quando desenvolvemos produtos. O ciclo tradicional de desenvolvimento (meses coletando requisitos, mais meses desenvolvendo, para só então descobrir se acertamos) contradiz tudo que sabemos sobre aprendizado eficaz.
O Pragmatic Programmer captura essa ironia perfeitamente: tratamos requisitos como se fossem cogumelos esperando para serem colhidos, quando na verdade estão enterrados sob camadas de suposições e mal-entendidos. Requisitos não são descobertos; são construídos através de exploração conjunta.
Seu papel não é implementar: é explorar
Vamos ser honestos: ninguém sabe exatamente o que quer. Nem você, nem seu product manager, nem seus usuários. E isso não é um problema. É uma oportunidade.
Considere este pedido aparentemente simples: "Precisamos de frete grátis para compras acima de R$50."
Um desenvolvedor júnior implementa. Um desenvolvedor sênior questiona:
O valor inclui impostos?
Como isso afeta nossas margens em diferentes categorias?
Qual o impacto em pedidos internacionais?
Com que frequência precisaremos ajustar esse limite?
Quando você levanta essas questões, algo mágico acontece. O cliente percebe: "Se incluirmos o valor do frete no cálculo, clientes podem adicionar produtos baratos e escolher entrega expressa cara para ter frete grátis." Você não apenas codificou; você revelou complexidades ocultas.
Esse processo de descoberta conjunta é o que transforma desenvolvedores em problem solvers. Como o Pragmatic Programmer enfatiza: nosso trabalho é ajudar pessoas a entender o que realmente precisam.
Isso é exatamente o que um product engineer faz.
O framework do feedback contínuo
Steve Jobs articulou uma verdade fundamental: "Você precisa começar pela experiência do cliente e trabalhar de trás para frente até a tecnologia." A maioria de nós faz o oposto: domina uma tecnologia e procura onde aplicá-la.
Aqui está um framework para inverter essa lógica:
1. Defina sucesso em termos de negócio, não de software
Pergunte: "Como saberemos que fomos bem-sucedidos seis meses após o lançamento?"
A resposta revelará expectativas reais. Um projeto para melhorar recomendações de produtos pode ser julgado por retenção de clientes, não por precisão algorítmica. Um sistema de consolidação de dados pode ter como métrica principal a redução de erros operacionais, não a performance técnica.
Essas métricas de negócio devem guiar cada decisão técnica.
2. Construa para aprender, não para impressionar
Mockups e protótipos não são entregáveis inferiores. São instrumentos de descoberta. Um protótipo funcional em uma semana ensina mais que seis meses de especificação.
O Linear, conhecido por seu produto excepcional, segue um princípio crucial: "Resolva o problema, não a feature." Quando usuários pedem integrações específicas, a equipe investiga o problema subjacente. Muitas vezes, a solução é mais simples que a requisição original.
3. Trate features como experimentos
Cada feature é uma hipótese: "Acreditamos que [implementar X] resultará em [métrica Y] para [usuário Z]."
Sem essa clareza, você está atirando no escuro. Defina métricas de sucesso antes de escrever código:
Taxa de adoção esperada
Redução de tempo em tarefas específicas
Impacto em métricas de negócio
Se após o lançamento as métricas não são atingidas, tenha coragem de remover a feature. Código não utilizado não é um ativo: é dívida técnica disfarçada.
Um beneficio extra é o quão bem isso vai ficar no seu currículo depois.
4. Consiga usuários o mais rápido possível
Faça uso de feature flags para poder lançar novas funcionalidades para um grupo seleto de usuários.
Quanto mais cedo você tiver feedback, mais rápido você pode aprender e melhorar seu produto.
A armadilha da complexidade incremental
Aqui está um fato contra-intuitivo: adicionar features frequentemente pode reduzir o valor do produto.
Cada nova funcionalidade aumenta:
Complexidade cognitiva para usuários
Superfície de bugs potenciais
Custo de manutenção
Tempo de onboarding
No mundo atual, saturado de opções e informações, produtos que fazem menos (mas fazem excepcionalmente bem) se destacam.
O caso Nubank: simplicidade como vantagem competitiva
Em 2013, enquanto bancos tradicionais ofereciam centenas de produtos e serviços, o Nubank lançou com uma única proposta: um cartão de crédito sem anuidade com um app que funcionava.
Parece pouco? Os bancos tradicionais também acharam. Mas o Nubank entendeu algo fundamental: seus usuários não queriam mais produtos bancários. Queriam menos fricção nos que já usavam.
O app inicial era quase ridiculamente simples:
Ver fatura
Pagar fatura
Bloquear cartão
Ajustar limite
Só isso. Sem marketplace, sem investimentos, sem seguros, sem milhagem. Apenas as funções essenciais executadas com perfeição.
O resultado? Através de uma cultura de experimentação, o Nubank hoje está entre os top 3 bancos do Brasil em valor de mercado.
Quando finalmente adicionaram novas funcionalidades (conta corrente, investimentos, seguros), cada uma passou por meses de testes com grupos pequenos. Eles validavam não apenas se a feature funcionava, mas se ela mantinha a simplicidade que seus usuários amavam. Muitas ideias morreram nesse processo. E isso foi uma vitória, não uma perda.
Quando você simplifica, você não está apenas facilitando o desenvolvimento. Você está respeitando o tempo e a atenção dos seus usuários, recursos cada vez mais escassos.
"Mas eu não tenho autonomia para isso"
Entendo. Você é júnior numa consultoria, ou trabalha numa empresa tradicional onde requisitos descem prontos do além. Como aplicar esses princípios quando você não pode questionar o backlog?
Mesmo sem autonomia total, você pode criar feedback loops:
1. Transforme refinamentos em explorações
Naquela reunião de refinamento onde todo mundo quer só estimar story points? Faça perguntas:
"Qual usuário específico vai usar isso?"
"O que ele faz hoje sem essa feature?"
"Como vamos saber se funcionou?"
Não precisa ser confrontacional. Frame como curiosidade genuína: "Só pra eu entender melhor o contexto..."
2. Crie protótipos não solicitados
Antes de começar uma feature complexa, monte um mockup rápido no Figma ou use vibe-code para criar uma demo rápida. Compartilhe no Slack: "Fiz um rascunho pra alinhar se entendi direito".
Metade das vezes, alguém vai responder "não era bem isso que imaginava". Você acabou de economizar semanas de retrabalho.
3. Implemente métricas mesmo que ninguém peça
Adicione logs e analytics básicos nas suas features. Depois de um mês, compartilhe os dados: "Percebi que apenas 3% dos usuários usam aquele filtro avançado que levou 2 sprints pra fazer."
Você não está criticando. Está trazendo dados. Dados são difíceis de ignorar.
4. Seja o "advogado do usuário" nas dailies
Quando alguém mencionar um bug ou comportamento estranho, pergunte: "Algum usuário real reclamou disso ou estamos assumindo?"
Com o tempo, o time começará a se fazer essa pergunta naturalmente.
5. Documente o "porquê" mesmo que só peçam o "como"
No seu código, nas suas PRs, no Jira, sempre adicione contexto de negócio.
Desenvolvedores futuros (incluindo você daqui 6 meses) vão agradecer. E você está criando cultura de pensar em valor, não só em código.
O ponto é: você não precisa ser tech lead para influenciar como software é construído. Pequenas ações consistentes mudam a cultura do time. E quando surgir aquela vaga internacional ou promoção, adivinhe quem vai se destacar?
Encantando usuários, não apenas entregando código
O Pragmatic Programmer nos lembra: nosso objetivo não é entregar software, é encantar usuários (delight users). Isso requer uma mudança fundamental de mentalidade.
Usuários não se importam com sua arquitetura de microserviços. Eles se importam se o sistema:
Resolve um problema real que enfrentam
Economiza tempo significativo
Reduz frustração em suas tarefas diárias
Se integra naturalmente ao seu fluxo de trabalho
Para alcançar esse nível de encantamento, você precisa:
Entender o contexto do negócio: Passe tempo com usuários reais. Observe como trabalham. Identifique pontos de fricção que nem eles percebem mais.
Questionar requisitos, não apenas implementá-los: Muitas vezes, o que parece ser um requisito é na verdade uma tentativa amadora de solução técnica. Tenha coragem de propor alternativas.
Manter o diálogo contínuo: O feedback não termina no deploy. Continue observando como usuários interagem com o sistema. Esteja preparado para admitir erros e pivotar rapidamente.
Por que isso te destaca para vagas internacionais
Zach Lloyd, ex-Principal Engineer no Google Docs e hoje CEO do Warp, capturou perfeitamente o que separa programadores excepcionais dos medianos:
"Os melhores programadores que conheço são product-first, mas na verdade têm mais conhecimento de código que os programadores coding-first. Eles sabem quando usar a motosserra vs. o serrote vs. o cinzel. Quando você precisa realmente acertar algo (geralmente quanto mais profundo na stack) vs. quando você pode improvisar e apenas se mover rapidamente. [...] Essas escolhas e trade-offs são o que significa se tornar um grande programador, e o mecanismo de feedback definitivo é o quão bem o produto funciona."
Esse é exatamente o mindset que empresas de alto crescimento estão procurando.
PostHog, Linear, Brex, Coinbase: todas essas empresas buscam product engineers. Não querem apenas alguém que executa tickets. Querem desenvolvedores que:
Questionam se uma feature deveria existir antes de construí-la
Pensam em impacto no usuário, não em complexidade técnica
Escolhem a ferramenta certa para o problema (às vezes é um for loop simples, não uma arquitetura distribuída)
Medem sucesso por adoção e retenção
Quando você demonstra esse tipo de pensamento em entrevistas, com exemplos concretos de como simplificou soluções ou evitou complexidade desnecessária, você imediatamente se destaca.
Por quê? Porque essas empresas aprenderam uma lição cara: o custo de construir a feature errada não é apenas o tempo de desenvolvimento. É a complexidade permanente que ela adiciona ao produto. Cada decisão errada torna as próximas decisões mais difíceis.
Elas precisam de desenvolvedores que entendam isso visceralmente. Que sintam dor física ao ver complexidade desnecessária. Que tenham coragem de dizer "não precisamos disso" mesmo quando seria divertido construir.
Desenvolver esse músculo de pensar em produto não é só sobre fazer software melhor. É sobre construir uma carreira onde você é valorizado pelo seu julgamento, não apenas pela sua capacidade de executar.

🌟 Resumo
Feedback loops curtos aceleram aprendizado tanto em programação quanto em desenvolvimento de produtos: erre cedo, aprenda rápido, ajuste constantemente
Requisitos são construídos, não coletados através de exploração conjunta entre desenvolvedores e usuários
Menos features, mais valor: a complexidade é inimiga da adoção; simplicidade requer coragem e disciplina
Seu título pode dizer "Engenheiro de Software", mas sua verdadeira função é resolver problemas. A tecnologia é apenas o meio. O código mais elegante do mundo fracassa se não transforma positivamente a vida de alguém.
Seu desafio para esta semana: Pegue aquela task no backlog que você ia começar amanhã. Antes de abrir o VS Code, marque 15 minutos com alguém de produto, suporte ou vendas. Faça três perguntas:
Qual problema do usuário isso resolve?
Como ele resolve isso hoje sem nossa solução?
Como saberemos se funcionou?
As respostas vão te surpreender. E o código que você escrever depois dessa conversa será fundamentalmente diferente e melhor do que seria sem ela.
Esse foi um artigo um pouco mais longo, mas espero que tenham gostado da leitura. 🙏
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