Startups vs Scaleups vs Big Techs: minhas percepções
Trabalhei em empresas de diferentes tamanhos nos últimos 9 anos de carreira. O que cada uma tem de diferente?
Essa semana, um colega do PostHog me perguntou como era trabalhar aqui comparado com a Brex. Acabei escrevendo um textão no Slack refletindo sobre as diferenças - e percebi que tinha conteúdo demais pra deixar perdido numa conversa interna.
A real é que cada tipo de empresa tem características bem específicas que vão muito além de "startup = caos" e "big tech = processos". Depois de passar por empresas em diferentes estágios, desde startups tentando achar product-market fit até scaleups processando bilhões de eventos, aprendi que as diferenças são bem mais sutis e impactantes do que imaginava.
O que realmente muda não é só o tamanho da empresa - é como você trabalha, o que você aprende e até como você pensa sobre engenharia.
✨ O que esperar do artigo
As diferenças práticas no dia a dia de engenharia entre startups, scaleups e big techs - com exemplos reais
Como ferramentas internas, processos e cultura afetam diretamente sua produtividade e aprendizado
Um framework baseado em experiências reais pra escolher onde sua carreira pode crescer mais rápido
Startups Early Stage: Onde Você Constrói Tudo (Literalmente)
Nas startups menores que passei, a primeira coisa que você nota é a ausência total de abstrações. Não tem CLI interno polido, não tem plataforma de deploy automatizada, não tem sistema de observabilidade configurado. Você está construindo no modo hard.
A realidade técnica de uma startup pequena:
Zero ferramentas internas: Quer fazer deploy? Configure você mesmo o CI/CD. Precisa debugar produção? Você lembrou de colocar logs no desenvolvimento? Tem alguma ferramenta de session replay? Na Increment, lembro de passar horas configurando ferramentas que em empresas maiores seriam um comando.
Ownership forçado: Não existe "isso não é minha área". Se o cliente reportou bug no mobile, e você é backend, adivinha quem vai aprender React Native hoje? Essa falta de especialização é brutal mas te força a entender o produto inteiro.
Decisões técnicas com impacto imediato: Cada decisão técnica pode acelerar ou travar a empresa inteira. O impacto das escolhas nesse início é muito maior. Aqui é sempre melhor escolher tecnologias entediantes, que já foram provadas em vários cenários.
Débito técnico como estratégia: Vi código em produção que tenho pesadelos até hoje. Mas sabe o que mais? Funcionava. E permitiu a empresa fechar contratos cruciais. Aprendi que código perfeito em empresa morta não vale nada.
A parte difícil? Você precisa ser resiliente. Já vi fundadores investirem dezenas de milhares de dólares do próprio bolso tentando achar product-market fit. Não é sobre a empresa "acabar amanhã" - é sobre pivots constantes até achar o que funciona.
Scaleups: O Desafio de Escalar Sem Quebrar
PostHog é fascinante porque está exatamente no ponto onde os problemas mudam de "será que funciona?" pra "como fazemos funcionar pra 100x mais usuários?".
As características técnicas únicas de uma scaleup:
Autonomia com consequências: Aqui no PostHog, engenheiros decidem no que trabalhar. Mas diferente de uma startup early stage onde você faz de tudo, aqui você precisa justificar por que aquilo importa. A autonomia vem com a responsabilidade de pensar como product manager.
Problemas de escala reais: Processamos bilhões de eventos por dia. Um bug no sistema de ingestão não é só "chato" - pode derrubar a experiência de milhares de usuários. Você aprende a pensar em percentis, não em casos isolados.
Stack moderna mas não perfeita: Temos Docker, Kubernetes, ClickHouse. Mas ainda estamos descobrindo as melhores práticas. É como construir o avião enquanto voa, mas pelo menos já temos as turbinas instaladas.
Developer experience em evolução: Consigo rodar tudo localmente (diferente da Brex), o que o ciclo de feedback muito mais rápido. Mas nossa observabilidade ainda não está no nível que eu gostaria. Debugar por que um request falhou é mais difícil aqui do que era na Brex com Datadog. Mas, provavelmente são skill issues do meu lado.
Quando shippei um bug em produção no PostHog, demorou mais pra reverter do que deveria. Não temos (ainda) um incident bot que force approve de PRs ou pule etapas do deploy. São gaps que você percebe quando vem de uma empresa maior.
O interessante é ver a evolução acontecendo. Cada problema que enfrentamos vira uma oportunidade de criar a ferramenta ou processo que vai ajudar os próximos engenheiros. E ao ter experiências em outras empresas, te faz pensar em como você pode adaptar soluções que já viu para a sua empresa atual.
Big Techs e Scaleups Maduras: A Máquina Bem Oleada
A Brex (que pra mim está mais próximo de uma big tech do que scaleup) me mostrou o valor de ter ferramentas e processos maduros. Não é sobre burocracia - é sobre não reinventar a roda toda vez.
O que muda com maturidade técnica:
Ferramentas internas polidas: Queria testar uma mudança? Um comando e você tinha um ambiente K8s completo com suas mudanças. Adiciona um header especial nas requests e pronto - teste em staging sem afetar ninguém. Esse tipo de ferramenta você só encontra em times de engenharia com maior maturidade.
Observabilidade de outro nível: Cada request tinha um trace ID. Algo deu errado? go/trace/{id}
e você via todos os logs, queries, eventos Kafka relacionados. No PostHog, ainda estou aprendendo a navegar o Grafana pra conseguir o mesmo nível de visibilidade.
Incident handling profissional: Na Brex, qualquer bug que afetava cliente era incident. O incident bot automatizava tudo - criava canal no Slack, forçava approvals, pulava etapas de deploy. Quando você está lidando com dinheiro dos outros, 5 minutos fazem diferença.
Abstrações que escondem complexidade: No geral, os sistemas em produção são abstraídos por times de plataforma. Você não precisava entender toda a arquitetura pra criar features. É uma faca de dois gumes - produtividade alta, mas você pode ficar alienado de como as coisas realmente funcionam.
O trade-off? Menos ownership direto. Quanto maior a empresa, menos eu via engenheiros não-seniors influenciando decisões de produto. As decisões vinham mais "de cima". No PostHog, qualquer engenheiro pode propor e liderar uma feature nova.
Como Decidir: Pensando em Fases da Carreira
Depois de experimentar esses diferentes ambientes, percebi que não existe "melhor" - existe o melhor pro seu momento.
Fase 1: Aprendendo os Fundamentos
Se você está começando, uma scaleup madura ou big tech pode ser ideal. Você vai:
Aprender as "melhores práticas" de engenheiros experientes
Ter mentoria e code reviews detalhados
Entender como sistemas em escala funcionam
Construir network valioso desde cedo
A Coinbase e Brex foram ótimas pra ver como empresas grandes operam. Aprendi padrões que uso até hoje.
Fase 2: Desenvolvendo Ownership
Hora de ir pra uma startup ou scaleup menor. Você vai:
Aplicar o que aprendeu sem as amarras de processos pesados
Tomar decisões técnicas com impacto real
Entender o negócio além do código
Desenvolver mentalidade de produto
O PostHog está sendo perfeito pra isso. Tenho autonomia pra decidir no que trabalhar, mas com problemas técnicos desafiadores o suficiente.
Fase 3: Maximizando Impacto
Aqui você escolhe baseado no tipo de impacto que quer:
Startup: Construir algo do zero, potencial de equity significativo
Scaleup: Liderar iniciativas técnicas grandes, balancear produto e engenharia
Big Tech: Influenciar direção técnica em escala, mentorear dezenas de engenheiros
O segredo é alternar. Similar ao Engineer/Manager Pendulum, mover entre ambientes diferentes te dá perspectivas únicas.
Na minha visão, essa etapa é quando você está se aproximando de um staff engineer. Não estou aqui ainda, mas é aonde eu quero chegar.
Perguntas para identificar a saúde das empresas
Para startups:
"Qual seu runway atual?"
"Existem planos para próximos rounds de fundraising?"
"Qual o maior problema que você está lidando agora?"
Para scaleups:
"Como vocês lidam com incidentes em produção?"
"Qual a participação de engenheiros em decisões de produto?"
"Como vocês atraem e retêm talentos na empresa?"
Para big techs:
"Qual a taxa de promoção no time?"
"Existem oportunidades de mobilidade interna?"
"Como é o processo de propor novas iniciativas?"
🌟 Resumo
Startups early stage exigem resiliência extrema mas oferecem aprendizado acelerado através da necessidade - você constrói tudo do zero
Scaleups combinam autonomia com problemas técnicos desafiadores - ideal pra desenvolver ownership mantendo desafios técnicos
Big techs/scaleups maduras oferecem ferramentas internas incríveis e processos maduros - melhor lugar pra aprender "o jeito ideal"
Developer experience varia drasticamente: de observabilidade básica até trace IDs automatizados e ambientes de preview sob demanda
Não existe escolha perfeita: cada ambiente tem trade-offs claros entre autonomia, estabilidade e aprendizado
Minha recomendação? Pense na sua carreira como um portfólio de experiências, não uma progressão linear. Cada tipo de empresa te ensina algo único - e as melhores carreiras combinam aprendizados de todos os ambientes.
A empresa perfeita não existe. Mas a empresa perfeita pro que você precisa aprender agora? Essa sim vale a pena procurar.
Se gostou dos desafios de uma scaleup, temos vagas no PostHog! Já escrevi sobre o processo seletivo também.
📚 Referências e leituras adicionais
Obrigado por ter lido até o final! 🙏
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