Por que seu currículo não passa da triagem (e como consertar)
Depois de revisar centenas de CVs, documentei os 5 erros que mais aparecem - e como corrigir cada um.
Você já mandou currículo pra dezenas de vagas e não recebeu nem um “obrigado, mas não”?
Nos últimos dois anos, centenas de pessoas me pediram pra dar uma olhada no CV delas. Assinantes, participantes da mentoria, gente do LinkedIn. Todo mundo com a mesma pergunta: “Lucas, o que tem de errado no meu currículo?”
E sabe o que eu percebi? Quase todo mundo comete os mesmos erros.
Gente com 10+ anos de experiência. Trabalhando em empresas conhecidas. Habilidades técnicas sólidas. Currículos que deveriam passar fácil. Mas não passam.
O problema nunca era falta de qualificação. Era como a qualificação estava sendo apresentada.
Cansei de repetir o mesmo feedback. Então resolvi documentar tudo.
Esses são os 5 erros que mais aparecem - e como consertar cada um.
✨ O que esperar do artigo
Os 5 erros mais comuns que fazem CVs serem rejeitados na triagem
Por que recrutadores descartam currículos em menos de 30 segundos
A crise de confiança em CVs (e por que networking ficou ainda mais importante)
Exemplos concretos de bullet points ruins vs. bons
O artigo de hoje é patrocinado pela Contabilizei.
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Primeiro, o contexto que você precisa entender
Deixa eu te dar alguns números - não meus, mas de quem vê o processo por dentro.
Charles Cook, que cuida de hiring no PostHog, escreveu recentemente sobre o que recrutadores realmente veem. Em 12 meses, o PostHog recebeu mais de 9.000 aplicações - uma média de 460 candidatos por vaga. De 300 aplicações pra uma única vaga de marketing, 12 conseguiram entrevista.
E o mais brutal: algumas aplicações levavam 5 segundos pra ele perceber que era um não. Cinco segundos. Outras ele gastava 5 minutos lendo com cuidado. A diferença? Como a informação estava apresentada.
Seu currículo não tá competindo só com gente da sua cidade. Tá competindo com engenheiros do mundo inteiro. E o recrutador não tem tempo de decifrar o seu potencial - você precisa deixar óbvio.
O que empresas realmente procuram são engenheiros “cracked” - gente que demonstra:
Histórico de autonomia e ownership
Curiosidade genuína sobre tecnologia
Capacidade de entregar resultados com mínima supervisão
Evidência clara de IMPACTO, não só responsabilidades
Mas tem outro problema que surgiu nos últimos dois anos.
A crise de confiança em currículos
Com a explosão de IA generativa, o mercado de recrutamento entrou em território desconhecido.
CVs gerados por IA viraram epidemia. Candidatos usam ChatGPT pra escrever currículos inteiros - inventando métricas, exagerando responsabilidades, criando bullet points que soam impressionantes mas não refletem a realidade.
O resultado? Recrutadores desenvolveram um ceticismo profundo.
Quer saber um feedback que eu dei três vezes na última semana? “Seu CV tá bom demais. Parece que o ChatGPT escreveu.” E o pior: em dois casos, eu tava certo. O cara confessou.
E não sou só eu. Nas próprias guidelines de aplicação do PostHog, a instrução é direta: “No ChatGPT, they’re really obvious.”
Recrutadores tão sacando isso também. Agora eles assumem que métricas são inventadas até você provar o contrário.
Estamos num cenário de baixa confiança.
Isso cria um paradoxo frustrante: você precisa ter um CV bem escrito pra passar na triagem, mas CVs bem escritos demais são vistos com desconfiança porque “parecem feitos por IA”.
O que isso significa na prática
Duas coisas:
1. Autenticidade virou diferencial. CVs que soam humanos, com linguagem natural, passam melhor que CVs “perfeitos” demais. Não significa escrever mal - significa escrever de forma genuína.
2. Networking ficou ainda mais crítico. Aqui entra o paradoxo: quanto mais os CVs parecem feitos por IA, mais o networking vale ouro.
Pensa assim: um recrutador vê 200 CVs. Todos parecem iguais. Todos têm métricas impressionantes. Como ele decide em quem confiar?
A resposta: referências e indicações.
Uma indicação de alguém de dentro corta todo esse ruído. O recrutador não precisa adivinhar se você é real ou se o ChatGPT inventou suas métricas - porque alguém que ele confia já confirmou. O CV vira só uma formalidade.
Lembra daquelas 12 pessoas que conseguiram entrevista no PostHog de 300 aplicações? Quatro delas eram referrals de membros do time. Um terço das entrevistas veio de indicações, não de aplicações frias.
Escrevi um artigo inteiro sobre como fazer networking de forma efetiva - especialmente pra quem é introvertido ou não sabe por onde começar:
Não tô dizendo pra ignorar o CV. Você ainda precisa dele. Mas entenda: o CV é necessário, não suficiente. A combinação de um bom CV + networking ativo é muito mais poderosa que qualquer um dos dois isoladamente.
Com isso em mente, vamos aos erros que você precisa corrigir.
Erro 1: Currículo com 3+ páginas
Regra de ouro: 1 página pra cada 10 anos de experiência.
Se você tem 5 anos de experiência e seu CV tem 3 páginas, tem um problema. Recrutadores não vão ler tudo. Eles vão fazer um scan de 30 segundos e decidir se vale a pena continuar.
O problema real: você tá incluindo informações que não agregam valor. Todo curso que fez, toda tecnologia que já encostou, toda responsabilidade de todo trabalho.
Quando seu CV tem 3 páginas, você tá diluindo suas melhores conquistas no meio de ruído. O recrutador pode nem chegar na parte que te diferencia porque desistiu antes.
Como consertar: Seja brutal na edição. Pergunta pra cada linha: “Isso me diferencia dos outros 200 candidatos?” Se a resposta for não, deleta.
Cursos de Udemy que todo mundo faz? Fora. Tecnologias que você usou uma vez há 3 anos? Fora. Experiência de estágio de 10 anos atrás? Provavelmente fora também.
Erro 2: Layout customizado (Canva, templates elaborados)
Eu sei que fica bonito. Aquele template do Canva com a barra lateral colorida, os ícones, as seções divididas em duas colunas.
O problema é duplo:
1. Sistemas ATS não conseguem ler direito. A maioria das empresas usa sistemas automatizados que parseiam seu CV antes de um humano ver. Layouts complexos quebram esse parsing. Seu template bonito do Canva vira texto quebrado e informação perdida.
2. Carga cognitiva desnecessária. Quando um recrutador tá vendo o 50º CV do dia, ele quer encontrar a informação rápido. Layouts criativos forçam o cérebro a trabalhar mais pra entender onde tá o quê.
Você pode pensar “mas meu design vai me destacar!” Na prática, destaca negativamente. Mostra que você priorizou estética sobre função - o oposto do que empresas de tech valorizam.
Como consertar: Use um formato limpo e padronizado.
Nada de colunas laterais com habilidades
Nada de ícones no lugar de texto
Nada de fotos (a não ser que seja padrão no país da vaga)
Nada de cores além de preto e talvez um azul escuro pra links
O melhor template é o mais simples: uma coluna, seções claras (Experiência, Educação, Skills), fonte legível. Boring funciona.
Erro 3: Currículo em português (ou inglês ruim)
Parece óbvio, mas vejo isso constantemente: currículos em português sendo enviados pra vagas internacionais.
CV em português = rejeição automática pela maioria dos recrutadores.
Não importa se a empresa tem escritório no Brasil. Não importa se a vaga diz “remote from anywhere”. Se você tá aplicando pra uma empresa internacional, seu CV precisa estar em inglês.
E quando o CV tá em inglês, frequentemente tem erros gramaticais ou frases que claramente foram traduzidas literalmente do português.
Exemplos que vejo toda hora:
“Responsible for the development of systems” em vez de “Led development of...”
“I worked in the company during 3 years” em vez de “3 years at Company X”
“Actual position” em vez de “Current position” (actual = real, não atual)
“I have knowledge in” em vez de simplesmente listar as skills
Erros assim sinalizam falta de atenção aos detalhes - exatamente o oposto do que você quer demonstrar. O recrutador pensa: “Se a pessoa não revisou o próprio CV, como vai ser o código dela?”
Como consertar: Seu CV deve estar em inglês impecável.
Escreva a primeira versão
Passa pelo Grammarly (a versão gratuita já ajuda muito)
Pede pra alguém que fala inglês fluentemente revisar
Leia em voz alta - erros ficam mais óbvios quando você ouve
E se seu inglês ainda não tá no nível necessário, esse é o gap que você precisa fechar antes de aplicar pra vagas internacionais.
Erro 4: Foco em responsabilidades, não em impacto
Este é o erro mais comum e mais prejudicial. Vejo em 90% dos CVs que analiso.
Ruim: “Responsável pelo desenvolvimento de features de pagamento”
Bom: “Liderei a implementação do Bill Pay auto-approve, usado por 91% de todos os pagamentos submetidos”
A diferença? O primeiro descreve uma tarefa. O segundo mostra um resultado.
Recrutadores querem saber: “E daí?” O que aconteceu porque você fez isso? Quantas pessoas usam? Quanto dinheiro economizou ou gerou? Quanto tempo reduziu?
A fórmula que funciona
Tem uma fórmula que o Google usa internamente - e eu vi funcionar dezenas de vezes nas revisões que fiz:
Conquista + Métrica + Como você fez.
Tipo: “Desenvolvi uma API RESTful que reduziu tempo de resposta em 40%, migrando de polling pra WebSockets”. Vê a diferença? Não é só “desenvolvi uma API”. É o que aconteceu por causa disso.
Exemplos reais de transformação
Essas linhas vieram de CVs de assinantes da newsletter. Iteramos juntos até chegar em versões que enfatizam o impacto.
(Nota: o ideal seria ter métricas específicas em cada bullet. Quando não tinha, focamos em pelo menos mostrar contexto e resultado. É o mínimo viável.)
Engenharia de Produto/Full-Stack:
❌ “Microservice development using Flask.”
✅ “Developed a RESTful API that streamlined workflows and enhanced team collaboration across departments”
❌ “Refactoring the code of a python application.”
✅ “Led a major code refactoring project, improving maintainability and reducing time for new feature releases”
❌ “Implementing CRUD operations for MongoDB.”
✅ “Engineered MongoDB CRUD operations, significantly improving data reliability and reducing data-related issues”
Engenharia de Dados:
❌ “Creating weekly dashboards with SQL queries.”
✅ “Developed weekly SQL dashboards that provided insights to boost overall team productivity”
❌ “Migration of data lake to the cloud.”
✅ “Migrated a 15-petabyte Data Lake to the cloud, enhancing data governance and optimizing costs”
E se eu não tiver acesso às métricas?
Eu ouço isso toda semana. E entendo - a maioria das empresas não dá visibilidade de métricas pra engenheiros individuais.
A boa notícia: você não precisa de números exatos.
Uma tática que funciona: pergunta pro seu tech lead ou PM. “Aquele refactor que fiz, que impacto teve no time?” Às vezes eles sabem números que você não tem. Outras vezes, dá pra estimar junto. “40% menos bugs em produção” pode ser uma estimativa do tech lead, não uma métrica de dashboard - e tudo bem.
Mesmo sem números, mostre IMPACTO. Frases como “improving maintainability”, “enhancing collaboration”, “enabling faster deployments” mostram que você entende o valor de negócio do seu trabalho.
O que você não pode fazer é só listar tecnologias ou descrever tarefas sem contexto. Isso coloca você na pilha de “candidatos genéricos”.
Se você quer se aprofundar em como identificar e articular o impacto do seu trabalho, escrevi um artigo inteiro sobre isso:
Erro 5: Hierarquia de informação ruim
Vi currículos onde a seção de “Cursos” vinha antes da “Experiência Profissional”. Onde “Objetivo” ocupava 5 linhas no topo. Onde a educação de 10 anos atrás tinha mais destaque que o trabalho atual.
A ordem importa porque recrutadores fazem scan de cima pra baixo.
Nos primeiros 10 segundos, o recrutador olha pro topo do CV. Se as primeiras coisas que ele vê não são relevantes, ele para de ler.
Você tá literalmente desperdiçando os pixels mais valiosos do seu documento.
A hierarquia ideal pra maioria dos casos
Nome e contato (1-2 linhas) - Nome, email, LinkedIn, GitHub se tiver projetos relevantes
Summary curto (opcional) - Só inclua se agregar valor real. “Software Engineer com 5 anos de experiência” é inútil
Experiência profissional (em ordem cronológica reversa) - 3-5 bullet points por experiência, foco em impacto
Skills técnicas (categorizadas) - Languages, Frameworks, Databases, DevOps. Não liste 50 tecnologias
Educação (breve) - Nome da instituição, curso, ano
Projetos pessoais ou open source (se relevantes)
O que NÃO colocar
Foto - pra maioria das empresas americanas/europeias, isso é estranho
Data de nascimento - irrelevante e pode gerar discriminação
Estado civil - completamente irrelevante
“Objetivo” genérico - “Busco crescimento profissional em empresa inovadora” não diz nada
Referências “disponíveis mediante solicitação” - isso é assumido, não precisa dizer
Uma ferramenta pra aplicar tudo isso
Eu tava dando esse mesmo feedback tantas vezes que acabei automatizando. Criei uma ferramenta de IA que analisa CVs usando os mesmos critérios deste artigo:
Idioma e profissionalismo: CV em inglês, sem erros gramaticais, formatação limpa
Impacto sobre responsabilidades: Seus bullet points respondem “e daí?”
Relevância do stack técnico: Tecnologias modernas e relevantes pro mercado internacional
Progressão de carreira: Crescimento claro, sem red flags
Prontidão competitiva: Seu CV se destacaria entre 200+ candidatos?
A análise te dá um score de prontidão (calibrado - a maioria fica entre 40-65, acima de 75 é genuinamente forte), pontos fortes, gaps, e ações concretas pra melhorar.
Importante: A ferramenta é pra te dar feedback, não pra escrever seu CV. Você entende onde precisa melhorar e faz as mudanças você mesmo. Assim mantém autenticidade - que, como vimos, virou diferencial.
Testa em nagringa.dev/app/analise-cv.
Todo mundo tem 2 análises gratuitas. Assinantes têm 30 por mês.
🌟 Resumo
1 página pra cada 10 anos de experiência - seja brutal na edição
Layout simples e ATS-friendly - templates elaborados prejudicam mais do que ajudam
Inglês impecável - CV em português é rejeição automática pra vagas internacionais
Impacto, não responsabilidades - use a fórmula X-Y-Z: “Realizei [X] medido por [Y], fazendo [Z]”
Hierarquia que faz sentido - experiência primeiro, informação irrelevante fora
Networking em paralelo - num cenário de baixa confiança, indicações cortam o ruído
Lembra: seu currículo tá competindo com centenas de outros. Você tem 30 segundos pra convencer alguém que vale a pena continuar lendo. Cada linha precisa trabalhar a seu favor.
Mas não dependa só do CV. Construa relacionamentos. Participe de comunidades. Contribua pra open source. Essas coisas criam caminhos que nenhum currículo sozinho consegue criar.
Pra referência, meu CV tá disponível em cv.lucasfaria.dev. Aplico tudo que descrevi aqui.
📚 Pra aprofundar
What startup recruiters actually see when you apply for a job - o artigo do PostHog que citei, direto de quem vê o processo por dentro
Como otimizar seu currículo para vagas na gringa - guia mais detalhado sobre formatação
Como e por que medir o impacto do seu trabalho - pra quem tem dificuldade em identificar métricas
O que é networking e como fazer efetivamente - especialmente útil pra quem é introvertido
Mil pessoas estão aplicando na mesma vaga que você - o contexto competitivo completo
Uma novidade: esse é o primeiro artigo com ilustrações do Gringo, nosso mascote. Tô experimentando esse formato pra deixar os artigos mais visuais.
Se tiver feedback sobre as imagens (ou sobre o artigo), deixa nos comentários - leio todos!
Se você conhece alguém que tá mandando currículo e não recebe resposta, compartilha!
E, lembrando, pra ter sua análise pelo Gringo, basta acessar o nagringa.dev/app/analise-cv.







Que artigo sensacional! Vai ajudar muitos devs!