Guia 2025: Como virar um Dev na Gringa
Tudo que você precisa saber para conquistar oportunidades de trabalho em empresas internacionais.
Trabalhar para empresas internacionais continua atraindo muitos devs brasileiros. Salários competitivos, exposição a tecnologias avançadas e flexibilidade são algumas vantagens. Desde 2020, quando comecei minha jornada internacional, aprendi que o caminho nem sempre é direto, mas é possível.
Desculpe, mas não existe nenhum curso de R$10k que vai garantir você ganhar uma vaga em dólares. Não existe fórmula mágica. Eu agi de uma maneira, e deu certo pra mim. Mas não quer dizer que vai dar certo pra você também.
O eu posso te dar são estratégias testadas que podem aumentar suas chances. Esse guia é um compilado de todo o conteúdo que eu escrevi com esse propósito nos últimos 12 meses.
✨ O que esperar do artigo
Como encontrar vagas internacionais no mercado atual de 2025
Estratégias para fazer sua aplicação se destacar entre centenas de candidatos
Como se preparar para diferentes tipos de entrevistas técnicas e comportamentais
O mercado internacional em 2025: realidade e desafios
O mercado tech em 2025 está mais competitivo do que nunca. Como explorei em a dura realidade das entrevistas em 2025, a tempestade perfeita criada pela pandemia acabou. As contratações se normalizaram e o mercado de júnior está especialmente difícil.
As entrevistas estão mais rigorosas. Empresas enfrentam um dilúvio de currículos gerados por IA, muitos com qualificações exageradas. Isso criou uma crise de confiança onde recrutadores gastam menos de um minuto avaliando cada candidatura.
Os processos seletivos agora incluem mais etapas e filtros. Recrutadores relatam que para uma única vaga sênior, precisam fazer cerca de 200 abordagens iniciais para chegar a apenas 3-4 finalistas.
A taxa de aprovação em startups como o PostHog chega a apenas 0,4% - de 900 aplicações, apenas 4 pessoas são contratadas.
Outro ponto importante é entender a diferença salarial entre tipos de empresas. Como expliquei no artigo sobre os maiores salários do Brasil, existem três tiers diferentes:
Tier 1: Empresas que competem localmente (pequenas empresas)
Tier 2: Empresas que competem nacionalmente (grandes empresas brasileiras ou start-ups brasileiras de alto nível)
Tier 3: Empresas que competem globalmente (big techs e startups internacionais)
Cada tier tem faixas salariais drasticamente diferentes. O mesmo cargo pode pagar 2-3x mais dependendo do tier da empresa.
Vale ressaltar também que, segundo recrutadores especializados em startups iniciais com financiamento de VCs, há uma preferência por engenheiros "cracked" - pessoas que demonstram histórico de autonomia, curiosidade genuína e capacidade de entregar resultados em ambientes intensos.
Como encontrar vagas internacionais
Quando comecei em 2020, tive que descobrir tudo por conta própria. Minha porta de entrada foi um marketplace de desenvolvedores - e continua sendo um excelente caminho para quem está começando.
Os principais marketplaces são:
Na G2i, entrei no marketplace em outubro de 2020 e um mês depois tive meu primeiro contrato. Na época estava fazendo mestrado em Ciência da Computação e decidi sair para trabalhar. Quando meu contrato acabou, fui contratado diretamente pela empresa.
Além dos marketplaces, sites especializados para busca de vagas remotas internacionais:
Para uma lista mais completa, veja aqui.
A abordagem mais eficiente: qualidade vs. quantidade
Uma lição que aprendi da maneira difícil: uma aplicação personalizada e bem pesquisada vale mais que 50 currículos genéricos.
Em vez de mandar seu currículo para centenas de empresas, foque na qualidade das aplicações. Desde 2020, mudei completamente minha abordagem. Agora invisto tempo (30min-1h) para cada aplicação importante:
Para startups: mando mensagem direta para CEOs/fundadores, geralmente por email ou DM via LinkedIn/X
Para empresas grandes: conecto com engineering managers ou recrutadores no LinkedIn
Essa abordagem resultou em menos rejeições de currículo. Passei a ser chamado em 1 a cada 2-4 aplicações, em vez de precisar enviar dezenas de currículos.
O networking efetivo faz toda diferença. Não precisa participar de eventos fora do trabalho - construa relacionamentos significativos no seu dia a dia profissional. As pessoas que trabalham com você hoje podem abrir portas amanhã.
Trate a vida como um jogo infinito. Nossa carreira vai durar por décadas. Garanta que todas as pessoas que trabalhem contigo se lembrem de como você foi um colega fenomenal. Busque interações autênticas e mudanças que vão te trazer ainda mais opções no futuro.
Mitos comuns sobre trabalhar para empresas internacionais
Antes de continuar, vamos desmistificar algumas ideias erradas:
"Preciso ser fluente em inglês": Você precisa saber se comunicar, não ser fluente. Certificados não importam. O que importa é entender o que está sendo falado e conseguir expressar suas ideias, tanto por escrito quanto falando.
"Apenas pessoas com diplomas em computação são contratadas": A faculdade ajuda, e é a minha opinião que é o melhor jeito de começar. Mas, embora uma formação possa ajudar, muitas empresas valorizam mais a experiência prática e projetos pessoais do que diplomas específicos.
"É impossível conseguir sem indicação": Indicações ajudam, mas não são obrigatórias. Uma candidatura bem preparada e personalizada pode abrir portas.
"Preciso morar nos EUA/Europa": Hoje existem oportunidades 100% remotas disponíveis para quem não reside no país de origem da empresa.
"Vou ganhar em dólar mas trabalhar o dobro": Muitas empresas internacionais têm cultura de equilíbrio trabalho-vida melhor do que empresas locais. Trabalhar "loucamente" não é a norma.
Tipos de contratação para trabalho internacional
Quando trabalhar para empresas internacionais, você geralmente terá dois modelos de contratação:
PJ (Pessoa Jurídica):
Mais comum em startups e empresas pequenas
Você cria sua própria empresa e emite notas fiscais
Maior liberdade, mas precisa gerenciar seus próprios benefícios
Geralmente paga impostos de 9-10% no Simples Nacional
CLT (através de empresas como Deel ou Remote):
Mais comum em empresas grandes sem CNPJ no Brasil
Recebe todos os benefícios legais (férias, 13º, etc)
Imposto retido na fonte, com alíquotas progressivas
Para te ajudar a decidir entre os dois modelos, criei uma calculadora CLT vs PJ que compara o valor líquido final considerando todos os impostos e benefícios.
Na minha experiência, empresas com CNPJ no Brasil (como Google, Meta, Amazon, Microsoft, Brex) geralmente contratam como CLT direto, enquanto startups preferem o modelo PJ pelo seu custo menor e simplicidade.
Como preparar um currículo que se destaca
Seu currículo é sua chance de causar uma boa primeira impressão - e os recrutadores gastam menos de 1 minuto avaliando cada um.
As partes essenciais de um bom currículo incluem:
Dados de contato claros e profissionais
Resumo ou objetivo (opcional, mas pode ser útil)
Experiência profissional com foco em resultados
Formação acadêmica
Habilidades técnicas relevantes
Projetos pessoais que demonstrem iniciativa
A estrutura ideal não deve passar de 1-2 páginas e precisa ser em inglês - mesmo que haja recrutadores brasileiros, um currículo em português é rejeitado imediatamente.
Exemplos concretos de bullet points eficazes
Ao escrever sobre suas experiências, foque em impacto e resultados mensuráveis. Aqui estão alguns exemplos do meu próprio currículo:
"Led the new permissions for Bill Pay, which added 50+ new customers and unblocked a large customer deal ($1m+/year)."
"Co-owned a new OCR process for scanning invoices that improved the bill pay form conversion rate by 10%."
"Improved GraphQL's cache policy for Bills to reduce loading times by up to 195 seconds per user session."
"Drove the implementation of Bill Pay auto-approve, which is used by over 91% of all bills submitted at Brex."
Perceba como cada ponto:
Começa com um verbo de ação
Descreve o que foi feito
Mais importante, quantifica o impacto com números específicos
O fator confiança
Toda contratação depende de um fator principal: confiança.
A pessoa que está contratando quer saber se você:
Sabe fazer o trabalho (demonstrado pelo seu currículo, portfólio, etc.)
Quer fazer o trabalho (tem interesse genuíno na empresa e sua missão)
Quando estiver em qualquer processo seletivo, essas são as perguntas fundamentais que você precisa responder. Toda frase que você falar numa entrevista tem que tentar responder algum desses pontos.
Dominando diferentes tipos de entrevistas
Processos seletivos internacionais geralmente incluem várias etapas, todas eliminatórias:
Conversa inicial com recrutador
Entrevista técnica (code screen)
Desafio técnico (take home ou ao vivo)
Entrevista de system design (para vagas pleno+)
Entrevista comportamental
Conversa final com liderança
Entrevistas técnicas
As entrevistas técnicas podem variar muito dependendo da empresa. Na minha experiência tanto como candidato quanto como entrevistador na Brex, vejo que as empresas estão cada vez mais exigentes.
Para se preparar, foque em:
Algoritmos e estruturas de dados: Use recursos como NeetCode, LeetCode ou o livro "Cracking the Coding Interview"
Frontend: Practice com GreatFrontEnd, especialmente para React/JavaScript
System Design: Estude livros como "System Design Interview" e canais como ByteByteGo
Durante o live coding, siga estas dicas:
Clarifique o problema antes de codificar
Pense em voz alta
Trate a entrevista como uma sessão de pair programming
Diferenças culturais nas entrevistas
Algo que percebi depois de fazer várias entrevistas para empresas internacionais: as expectativas culturais variam muito! Em empresas americanas, por exemplo, espera-se que você "se venda" mais do que estamos acostumados no Brasil.
Quando entrevistei para o PostHog, notei que eles valorizavam muito a autenticidade, a independência e a capacidade de admitir erros - algo que talvez não fosse tão bem recebido em outras empresas.
Dica: Pesquise a cultura da empresa antes da entrevista. Veja entrevistas de funcionários no YouTube ou posts no blog corporativo para entender o tom. Olhe a lista de valores da empresa - entenda o que estão buscando em seus funcioários.
Entrevista comportamental - o diferencial
A entrevista comportamental é onde muitos candidatos tecnicamente competentes falham. Quando entrei na Brex, minha melhor entrevista foi a comportamental - e isso foi fundamental para que eu me destacasse entre outros candidatos.
É sua chance de demonstrar:
Paixão por engenharia: mostre entusiasmo genuíno
Contribuição para o sucesso: alinhe-se aos objetivos da empresa
Cuidado com as pessoas: reflita seu respeito pelos outros
Para a entrevista comportamental, prepare histórias concretas que demonstrem como você lidou com desafios, colaborou com times e entregou resultados.
Ferramentas essenciais para trabalho remoto internacional
Além de encontrar a vaga certa, ter as ferramentas adequadas é crucial para o trabalho remoto internacional. Isso quer dizer ser produtivo nos softwares que são usados pelas empresas.
Comunicação: Slack
Produtividade: Notion, Obsidian, Google Docs (para documentar seu aprendizado)
Colaboração: GitHub, Figma
Reuniões: Zoom, Google Meet
Inglês: Grammarly (para verificar sua escrita)
Essas ferramentas vão te ajudar a se manter produtivo e comunicar efetivamente com times distribuídos. Para uma lista mais completa, veja meu artigo sobre ferramentas de produtividade para 2025.
Lidando com diferentes fusos horários
Um desafio específico do trabalho remoto internacional é gerenciar a diferença de fusos horários. Em 3 anos trabalhando com times dos EUA, aprendi algumas estratégias valiosas:
Estabeleça um overlap claro: Defina algumas horas por dia onde você estará disponível para reuniões síncronas com o time internacional.
Documente tudo: Em ambientes assíncronos, a documentação clara se torna ainda mais importante. Um PR bem documentado pode ser revisado enquanto você dorme.
Use ferramentas de agendamento: Aplicativos como Calendly já convertem automaticamente os horários para o fuso do participante.
Aproveite a diferença: Comece seu dia respondendo a perguntas que surgiram enquanto você dormia - isso dá tempo ao time internacional para ver suas respostas durante o dia deles.
Na PostHog, temos membros da equipe em muitos fusos diferentes. Nossa regra é: documentação de primeira classe e comunicação assíncrona como padrão. Reuniões são exceções, não a regra.
Depois da contratação: primeiros 90 dias
Impressões iniciais importam. Os primeiros meses definem como as pessoas vão te ver por muito tempo.
Para fazer um excelente onboarding, siga este plano:
Primeiros 30 dias - Foco em aprendizado
Estude a arquitetura e stack da empresa
Envie pequenas contribuições de código rapidamente
Faça reuniões 1:1 com pessoas-chave
60 dias - Observação e planejamento
Participe ativamente em revisões de código
Construa relacionamentos com stakeholders
Comece a identificar áreas para melhorias
90 dias - Gerando impacto
Lidere implementações de médio porte
Proponha melhorias de processo
Demonstre impacto mensurável
Quando entrei no PostHog, o algoritmo que mais me ajudou foi fazer reuniões de 30min com pessoas-chave: 25min para elas compartilharem o que achavam importante eu saber, 3min para perguntar sobre os maiores desafios do time, e 2min para descobrir com quem mais eu deveria conversar.
Para continuar crescendo na carreira, aprenda a medir seu impacto e construa uma carreira sustentável.
Perspectivas para o mercado internacional em 2025-2026
O mercado internacional para devs brasileiros deve continuar competitivo nos próximos anos, mas com algumas tendências favoráveis:
Especialização em IA: Engenheiros que dominam ferramentas de IA e conseguem integrá-las em produtos têm alta demanda
Full-stack com foco em backend: Startups valorizam cada vez mais desenvolvedores versáteis. Full-stack é cada vez mais importante, e a maioria das vagas pede um conhecimento maior em backend
Conhecimento em produtos: Diferenciar-se pelo entendimento de negócios, não apenas código
Comunicação cada vez mais importante: Com times cada vez mais distribuídos, comunicação clara se torna diferencial decisivo
A competição permanecerá acirrada, mas para desenvolvedores que investem em aprendizado contínuo e impacto real, as oportunidades sempre existirão.
🌟 Resumo
Encontre vagas estrategicamente: Use marketplaces como porta de entrada, foque em aplicações de qualidade e construa relacionamentos profissionais genuínos
Prepare materiais que inspiram confiança: Currículo em inglês, portfólio relevante e comunicação clara sobre por que você quer e pode fazer o trabalho
Domine diferentes tipos de entrevista: Prepare-se para desafios técnicos, mas não subestime a importância da entrevista comportamental e entenda as diferenças culturais
Comece com o pé direito: Nos primeiros 90 dias, aprenda rapidamente, construa relacionamentos e demonstre impacto
Gerencie diferenças de fuso horário: Estabeleça overlap claro, documente bem seu trabalho e aproveite a natureza assíncrona como vantagem
Lembre-se: não existe fórmula mágica, mas uma combinação de preparação, estratégia e genuíno interesse pode fazer toda diferença na sua jornada como dev na gringa.
Fico feliz que você leu o artigo até o final! 🙏
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Oi Lucas, eu tento adequar essas dicas para aplicar em vagas de ux/ui design. Mas você conhece alguém, ou alguma plataforma, que atue com/nessa área de forma mais específica?